quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Fast food no berço da SLOW FOOD....nunca!!!!!!!

Mc Gordão




Que a política na Itália vai de mal a pior, isso não é novidade para ninguém. Mas quando os italianos pensavam que já tinham visto todo tipo de imoralidade por parte de seus políticos, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi conseguiu superar mais uma vez as expectativas, ao atacar a instituição mais sagrada de seu país: la divina cucina italiana! Unindo-se recentemente ao McDonald’s, a rede fast-food norte-americana que simboliza a globalização da mediocridade alimentar, o governo italiano patrocinou a criação de uma nova linha de hambúrgueres - o McItaly. “O McDonald’s agora fala italiano”, diz o slogan.




Usando um avental e bancando o funcionário modelo da lanchonete americana, o ministro da agricultura Luca Zaia informou à imprensa que os novos sanduíches serão feitos com produtos exclusivamente italianos como alcachofra, pancetta, bresaola e queijo Asiago. Sim, produtos 100% italianos, garantiu o ministro, que, assim como seu superior, demonstra não só a falta de amor pelos produtos da terra mas também total desconhecimento sobre a procedência dos alimentos. A bresaola della Valtellina, a bem da verdade, é feita de carne bovina made in Brazil e Argentina!



A dieta mediterrânea é estudada por nutricionistas e indicada pelos médicos como a mais saudável do mundo. É rica em fibras, antioxidantes e gordura monoinsaturada, e é balanceada em proteínas e outros carboidratos. A cozinha italiana conseguiu manter, mesmo em meio ao mundo globalizado, a sua integridade e princípios, exportando a ideia de vida saudável, comfort food e o prazer de comer bem. Além de ter sido – pura ironia! - o berço do Slow Food, movimento internacional fundado por um grupo de barolistas e liderado pelo jornalista Carlo Petrini, em meados dos anos 80, e criado justamente contra a rede de lanchonetes norte-americana e sua filosofia junk food. O Identità Golose, o mais famoso congresso de cozinha autoral da Europa, que começará nesta primeira semana de fevereiro, promete muitos debates e protestos fervorosos sobre o assunto.


Os chefs italianos contemporâneos, por sua vez, adicionaram a criatividade, o pensamento ideológico e filosófico, construíndo suas cozinhas sobre o alicerce sólido da cozinha italiana tradicional. Fazendo parceria com o McDonalds, o governo italiano não só tenta corromper o ethos cultural e a dignidade do produto de terroir de seu país, como também envia uma mensagem errônea aos consumidores (a maioria jovens e crianças), mascarando um produto de baixa qualidade e valor nutritivo com a imagem e o nome de um país que é respeitado e admirado mundialmente por sua culinária primorosa.



“Um ato monstruoso de traição nacional”, afirma o jornalista e crítico de restaurantes britânico Matthew Fort ao jornal The Guardian. Muitos chefs, foodies e cidadãos italianos estão indignados, e inúmeros protestos podem ser acompanhados na internet, em blogs ou no twitter, assim como em respeitados jornais europeus. Eu acrescento aqui meu protesto pessoal, que também representa a opinião de muitos colegas de profissão com quem falei nos últimos dias: “- O novo McItaly é a materialização de um escândalo político, uma tragédia gastronômica, e um insulto à cultura alimentar italiana.”



Berlusconi desta vez cutucou o vespeiro com vara curta!



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